- Ann e John! São os vencedores!
- Oooooh... - fizémos os quatro ao mesmo tempo.
- Não faz mal, foi engraçado - disse Bill com um sorriso.
- Exactamente - concordei eu, retribuíndo.
- Engraçado vai ser pagar a conta! - disse Tom, rindo.
(...)
O tempo foi passando e eu e o Tom discutíamos por tudo e por nada. Tudo se tornava argumento de discussão. As coisas não corriam nada, mas mesmo nada bem.
Até que um dia tivémos uma discussão numa discoteca. Bill e Amy não estavam lá, tinham ficado em casa. Não saímos da discoteca depois da discussão. Eu apenas me sentei e ele foi dançar um pouco.
Enquanto ele dançava, vi que se encontrou com uma rapariga. Uma rapariga bonita, morena, de olhos castanhos. Fiquei a observá-los. Não que não confiasse no Tom, mas alguma coisa me prendeu o olhar. Sempre fui um tanto ciumenta. Mas de certeza que eram só amigos. Afinal, eu e ele namorávamos há coisa de dois anos.
Ficaram a conversar durante algum tempo e foram até ao balcão. Foram bebendo, falando, bebendo, falando... Não gostava nada daquilo. Normalmente, quando o Tom se encontra com amigos ou amigas, chama-me e apresenta-me.
Olhava-os, cada vez mais nervosa. Até que o meu coração parou. Deixei cair o copo que tinha na mão. Não consegui respirar. Queria chorar mas nem isso conseguia fazer. Os meus olhos ardiam, tinha um aperto no peito e um nó no estômago. Eles estavam a beijar-se.
"Não é possível! Aquele não deve ser o Tom!", pensava eu. Mas a minha mente não se conformava, pois os meus olhos mostravam-me a realidade. Uma realidade nua e crua. Dura e fria. Sinistra, horrível, tenebrosa. Levantei-me de súbito. Não sabia se havia de fugir ou de ir lá e pregar-lhe um valente estalo e esclarecer as coisas.
Aproximei-me furiosamente e desgastadamente deles. Puxei o braço dele, fazendo-os quebrar o beijo. A rapariga olhou-me espantada e Tom ficou engasgado.
- Ni, eu... - ia dizer ele.
- Pensava que já tinhas acabado com ela - disse a rapariga.
Tom lançou-lhe um olhar do género: "Não era o momento indicado para dizeres isso".
- O quê? - perguntei, furiosa.
- Nicky, eu...eu já falo com a Laura há algum tempo. Eu acho que comecei a gostar dela. As coisas entre nós também não têm corrido propriamente bem...desculpa.
- Desculpa? Acabaste de me enfeitar a cabeça e tudo o que tens para me dizer é "desculpa"?
- Ni, eu...
- Não me chames Ni! Ni é para os amigos e para o suposto...namorado. Mas é aquele namorado que não me trai. Aquele namorado que prometeu que se deixasse de gostar de mim, eu iria ser a primeira a saber. Aquele namorado que quando diz que me ama, é mesmo isso que sente. Aquele que não trai, não mente, não esconde. Aquele que é verdadeiro, sincero, honesto. E tu...deixas-te de ser esse namorado.
- Inês, espera! - gritou ele.
Saí furiosa da discoteca. Estava agora lavada em lágrimas. Todas as pessoas que entravam ou saíam da discoteca, fitavam-me, curiosas.
Os meus olhos viam o mundo embaciado, devido às lágrimas. A minha cara parecia as cataratas do Niagara. Os meus olhos pareciam o rio Nilo. A minha expressão na cara era impossível de descrever.
Chovia que se fartava. A noite era quente, mas chovia. O céu estava coberto de nuvens e estava escuro. Os candeeiros iluminavam as ruas. Continuava tudo cheio de cor e vida à minha volta, mas eu via tudo a preto e branco. Por dentro sentia-me morta, seca, sem vida, sem cor, sem jeito. Eu amava o Tom. Ele foi tudo para mim durante anos. E de repente, o respeito e afecto que sentia por ele, caíam no chão como a chuva à minha volta. Andei depressa e desamparada, sem saber para onde ir.
Cheguei a um parque. Sentei-me num banco e pus o capuz do casaco. No meio da chuva, as minhas lágrimas confundiam-se com esta. A mesma sensação permanecia dentro de mim. Era como se me tivessem espetado uma faca no coração. A traição de quem mais amamos é a pior sensação que se pode ter no mundo.
Olhei a chuva que caía. Cada gota era um sonho, uma memória, um sorriso, um momento com ele. E todas essas gotas, quando chegavam ao chão, desfaziam-se, destroçavam-se e confundiam-se com tantas outras que já tinham caído. Era assim que eu me sentia em relação a mim e ao Tom.
Pairou, dentro da minha cabeça, uma música demasiado triste. Uma música que eu sempre cantava quando me sentia triste.
[ http://www.youtube.com/watch?v=aQAYac85XKw ] [ Banda: I am Ghost - Música: The dead girl epilogue ]
Comecei a cantá-la, entre soluços, balbuciando, murmurando-a. Desafinava, mas não queria saber. Cantei-a mesmo baixo.
- "Soon the rain will wash away the sun...as I melt with you...I am ghost"...
- Inês? - ouvi chamarem o meu nome.
Deus, a voz era tão quente, tão familiar, tão acolhedora. Era uma voz masculina que me era bastante conhecida. Não era o Tom, nem o Bill. Era uma voz doce, terna, quando dizia o meu nome. Vagarosamente, fui subindo a minha cabeça para ver quem era. Não que isso me importasse no momento. Estava mais concentrada na música, nos meus pensamentos, no Tom, na traição.
Quando vi quem era, ia-me dando uma coisa má. Fiquei estupefacta, imóvel. Assim como a voz, a cara era-me igualmente conhecida. Uma cara bastante conhecida para mim. Fiquei tão surpresa que apenas consegui balbuciar o seu nome, deixando outra lágrima deslizar pela minha cara.
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