sábado, 17 de maio de 2008

Eu e tu...não dá [Capítulo 13]

Nós, no aeroporto. Não podia haver cenário mais triste, cinzento e sombrio na minha vida. A despedida. Porque é que tudo o que é bom, acaba depressa?
- E agora? - perguntei, nos braços dele, chorando como nunca.
- Agora...esperamos. Tu tens quinze anos, não podes vir viver comigo...nem eu me posso mudar para aqui, assim de repente. Tens de entender que a minha carreira é uma prioridade.
- Eu entendo isso, e, tanto como entendo, respeito.
- Ainda bem que é assim.
- Mas agora...como ficamos?
- Não sei. Vamos falando...

(...)

Mas esta despedida era certa e sabida. Eu sabia que isto ia acontecer. Só não queria que assim fosse. Acho que só tomei consciência das coisas assim que o avião descolou. As coisas ficaram em águas de bacalhau, como se costuma dizer. Ficou tudo incerto, tudo...estranho. Resolvemos apenas falar por internet. Não havia mais opções. Não tínhamos escolha.

(...)

Nos primeiros tempos, ele mandava-me uma mensagem de vez em quando, para desejar boa noite ou boa sorte em alguma coisa que eu fizesse. Mas depois, a certa altura, deixou de o fazer. Deixei de ter tantas notícias dele e só falávamos mesmo de vez em quando, na internet.
Até que comecei a ver notícias do que não queria...ele tinha começado de novo com as one night stands! Mas como era? Na internet, ele dizia que me amava...na realidade, curtia com fãs. "Ele não pode parar a sua vida por ti, Nicky. Tens de seguir em frente". Mas é tão fácil falar, não é?

(...)

O tempo foi passando. Eu e ele não passávamos de amigos. Ele não me dava uma razão para dizer que me amava e se meter em one night stands...mas eu também não tinha nada a ver com isso. Não tínhamos de dar satisfações um ao outro. Foi por isso que também tive algumas curtes.
A minha banda...era um sucesso! Conseguimos. Com apenas um CD, conseguimos sucesso por toda a Europa, em coisa de um ano e meio. A nossa história era semelhante à dos Tokio Hotel. Conseguimos então uma oportunidade única.

(...)

Michael, o manager, entra estúdio adentro. Eu, a Roxy, a Ruth, a Bea e a Ana ríamos que nem umas perdidas, como sempre. Michael traz um grande sorriso estampado na cara.
- Meninas, trago-vos notícias, creio eu, excelentes! - disse ele, com um sorriso. Parámos de imediato - Arranjei-vos uma digressão!
Estremeci ao ouvir aquilo. Um arrepio percorreu-me a espinha. Elas devem ter ficado da mesma maneira. Desatámos todas aos pulos, rimos, chorámos, trememos...foi um momento único. Até que ele me diz aquilo que nenhuma de nós esperava ouvir.
- Ainda não acabei...podem ficar ainda mais histéricas...vocês vão fazer a digressão com outra banda. Vão abrir todos os concertos dos...Tokio Hotel!
Desataram todas ainda mais aos pulos. Eu paralisei. Ia ter de enfrentar o Tom de novo. E agora? Eu não estava preparada! Eu não queria, eu não podia, não encaixava. Não, não me parecia possível...

(...)

A minha mão direita segurava a mão esquerda da Roxy e a minha mão esquerda segurava a mão direita da Bea. A mão direita da Roxy estava entre as mãos da Ana e a mão esquerda da Bea estava entre as mãos da Ruth. Estávamos sentadas e nervosas como nunca. Creio que até o nosso primeiro concerto foi mais simples do que isto. Mas afinal, isto não era um concerto. Os nossos corpos tremiam completamente e parecia que tínhamos borboletas na barriga. E eu e o meu velho tique de tremer a perna, como se de um pedal de bateria se tratasse. A Ruth havia sido em tempos nossa manager, e agora, nossa baterista. Eu era vocalista, o meu sonho desde pequena. A Bea era baixista, a Roxy guitarrista e a Ana tocava teclado. A banda estava completa. Sweet Sorrow. Tínhamos um manager que nos tinha ajudado bastante. As nossas famílias e amigos tinham estado do nosso lado durante todos os momentos e processos mais complicados. As alturas complicadas foram pouquíssimas, comparadas com as coisas boas que nos tinham acontecido. Pareciam absolutamente pequeníssimas.
Sentadas as três, com o nosso manager ao lado, que só se ria das nossas figuras. Nervosismo, ansiedade, desespero...eu não encontrava as palavras certas para descrever a montanha russa de sentimentos que estava dentro de mim, e de certeza, também dentro delas. Durante as últimas horas no estúdio, tínhamo-nos dedicado a arrumar e a limpar tudo. Demorámos uma hora, ou talvez mais, para nos arranjarmos. A verdade é que estávamos normais, como nos outros dias.
Ajeitei-me milhares de vezes no comprido sofá da sala do estúdio. Não parecia arranjar uma posição confortável. Estávamos ali há coisa de meia hora, a maior parte do tempo, em silêncio. Apenas trocávamos olhares. As nossas mãos, que estavam juntas, já transpiravam. Era tudo inacreditável. O sucesso que tínhamos tido pela Europa era algo que nunca nos tinha passado pela cabeça. Ao fim de alguns minutos, parei de mexer a perna, que já me doía. Não me contive. Eu sou mesmo idiota. Soltei uma risada histérica. Depois saltei para o chão, rebolei deitada e não parava de me rir. Ficou tudo a olhar para mim.
- Ok...foi desta... - disse Roxy.
- Senhoras e senhores, Nicky Maria passou-se de vez! - disse Bea espantada com a minha reacção.
O nosso manager só se ria. Mandei um pulo e pus-me de pé. Fiz uma cara séria como se nada se tivesse passado e retomei o meu lugar, já mais calma. Michael, o manager, não parava de rir. Dei um sorriso para todas e voltei a agarrar as mãos delas. O meu coração continuava a bater forte. Quando não tinha a sensação das borboletas, tinha uma enorme dor. As borboletas iam e vinham, iam e vinham...
Até que oiço passos fora da porta e alguns risos que me pareciam familiares. Olho para a porta. Vejo o puxador da porta rodar, ruidosamente. Não me contenho e deixo cair uma lágrima, há muitas horas retida no meu olho. E quando eu pensava que o coração não podia bater mais forte, disparou brutalmente assim que o vi. O rapaz que eu mais amo neste mundo, que nem fazia ideia de quem eu era. Ia finalmente conhecê-lo.
Lembro-me de ver os seus profundos olhos castanhos e o seu melhor sorriso. Um rapaz alto, de dreadlocks loiras e castanhas, chapéu vermelho, camisola preta largueiríssima com desenhos vermelhos, calças de ganga de tamanho exagerado e ténis pretos à skater. Atrás dele, podia apenas ver um pouco do cabelo preto e espetado do seu irmão gémeo. Tremi. Mais que nunca.
- Nicky! - exclamou ele. Dirigiu-se a mim com um sorriso enorme e olhos brilhantes. - É tão bom ver-te!
- Também é bom ver-te, Tom - respondi eu, e retribuí o abraço.
Por fora, eu sorria. Por dentro, chorava. Não queria vê-lo. Ele magoou-me e nem se deve ter apercebido de tal coisa. Mas eu não podia deixar levar-me de novo. Eu simplesmente não estava disposta a subir tão alto, para a queda ser tão brutal...outra vez. Por um lado, eu sentia que tinha de fazer o Tom perceber o que era o amor. Mas e se eu não era pessoa para ele amar? E se ele simplesmente não estivesse disposto a fazê-lo?

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