Primeiro dia da tour, à noite. Deitei-me e andei às voltas na cama. Não conseguia dormir de todo. Abri a tampa do telemóvel. Era tardíssimo! Roxy ouviu-me às voltas e acordou. A minha cama era em frente à dela.
- Não consegues dormir? - perguntou ela, ensonada.
- Eu... - gaguejei eu.
Ela já me conhece bem de mais. Veio sentar-se ao meu lado.
- Que tens, mana? - perguntou ela.
- Eu...sabes quando tu sentes que tens de fazer uma coisa no momento, e parece a mais acertada...mas depois arrependes-te mesmo muito?
- Sim, sei...mas o que se passou?
- Eu...quando eu fiquei sozinha com o Tom, nós provocámo-nos mutuamente...sim, tu sabes que eu adoro esses joguinhos de sedução...e eu acabei por beijá-lo...
Roxy arregalou-me os olhos.
- A sério? - perguntou ela, admiradíssima.
- Sim, mas agora eu não sei...tipo, arrependo-me. Sabes que eu e ele andámos aqueles diazinhos, foi tudo maravilhoso, "bla, bla, bla, whiskas saquetas"...mas eu tenho medo de sair outra vez magoada, apesar de ele me jurar a pés juntos que me ama. Tu sabes como é o Tom.
- Sim, eu conheço a peça! - disse ela, revirando os olhos.
- Pois e eu senti-me...arrependida. Queria fazer aquilo, mas talvez não fosse o momento indicado. Nós temos alguma ligação forte, não sei explicar. Mas não é o suficiente. As palavras dele, parece que não me chegam. Se alguma vez tivérmos alguma coisa, quero que faça significado para nós. Não só para mim, entendes?
- Entendo perfeitamente...e não me quero meter...mas se queres que assim seja, tenta ser menos impulsiva quando estás ao lado dele, mesmo que pareça impossível. Tens de ter auto-controlo e não te podes deixar levar por provocações nem por joguinhos de sedução, aqueles que tu tanto gostas! Eu sei...os gémeos são a coisa mais linda do mundo...mas não te deixes levar por isso! Isto, se queres mesmo aquilo que me acabaste de dizer.
- Sabes que não quero ter nada com ele que não tenha tipo princípio, meio e fim. Eu não sou de meios termos. Comigo ou é a sério, ou não. "Curte", para mim, é um meio termo! Nunca fui de me meter em cenas indefinidas. E é exactamente isso que o Tom gosta. Não estou disposta a curtir com ele. Não quero sair de novo magoada.
- Eu entendo-te e fazes bem...
- Vai dormir, mana. Temos de acordar cedo amanhã.
- Ficas bem?
- Sim, fico - afirmei eu, acenando com a cabeça. Mas não era aquilo que eu sentia. Era óbvio que eu não estava nem ia ficar bem. A não ser que o Tom estivesse mesmo a falar a sério. Mas até lá, eu ia demorar tempo. Teria de "apalpar terreno" primeiro, ver primeiro as coisas e só depois, talvez, agir. Avançar de uma vez.
Roxy deitou-se de novo na sua cama, e passado uns cinco minutos, já estava adormecida de novo. Não contive um pequeno sorriso no canto da boca. Fico satisfeita por saber que tenho amigas assim, sempre do meu lado. A Roxy é uma dessas amigas. Tanto ela, como a Ana, como a Bea, como a Ruth, como a Su, como a Pinky, como a Ycky, como a Mondy...estou rodeada delas! Isso faz-me feliz. Ela fica com uma carinha mesmo doce quando dorme. Também acordada, mas a dormir, é mesmo querida.
Voltei a olhar pela pequena janela do lado da minha cama. Estava uma noite agradável. Não estava frio nem calor, céu limpo, escuro, muitas estrelas e lua cheia. Deslizei um pouco na cama e fiquei a contemplar o céu e a estrada em movimento. Já muito tarde, deixei-me embalar que nem uma bebé no balançar do autocarro em andamento, e acabei por adormecer.
(...)
No dia seguinte, a Roxy veio-me acordar. Despachámo-nos e fomos tomar o pequeno-almoço. Já estavam todos prontos. Tínhamos entrevistas para dar e à noite tínhamos um concerto. Teríamos toda a tarde livre. O Tom mal me olhava nos olhos. Ficámos assim todo o pequeno-almoço. Todos conversavam alegremente e nós...caladíssimos e quando nos olhávamos era de raspão.
Chegámos ao local da entrevista. Depois de darmos a entrevista fomos fazer uma sessão fotográfica. Enquanto todos se arranjavam, puxei o Tom para fora do "camarim".
- Não quero ficar o resto do dia sem falar contigo e a olhar-te só de raspão. Eu não aguento isto. Não quero. O ambiente tá demasiado tenso! Assim não aguento, Tom...
Pela primeira vez naquele dia, ele olhou-me nos olhos e falou:
- Desculpa...
- Tom, tu não tens de pedir desculpa por nada! Eu é que fiz o que não devia de ter feito. Mas quero esquecer que isto aconteceu...é o segundo dia de digressão e o ambiente está como está. Não quero que isto seja assim...
- Nem eu, miúda. Nem eu... - disse ele num tom frio.
Acariciou-me a cara e olhou-me nos olhos. Senti o calor da sua pele e vi os seus olhos brilharem. Mais uma vez, eu tinha a pulsação acelarada de estar tão perto dele. Beijou-me levemente a face voltou a entrar para a sala onde todos estavam a ser maquilhados. Entrei também.
A manhã passou, o almoço passou...finalmente a tarde. Podíamos descansar um pouco.
Dei com o pessoal todo na sala e vi o Tom a dormir na sua cama. Parecia um anjo quando dormia. Dei um leve sorriso. Lembrei-me dos momentos em Portugal. Das duas noites que passámos juntos.
- Gostas de me observar enquando "durmo"? - perguntou ele e sorriu, abrindo os olhos.
- Desculpa se te acordei - disse eu atrapalhada.
- Eu não estava a dormir. Estava só a descansar. Queres vir descansar comigo? - perguntou ele com um sorriso maroto.
- Depende...
- Depende do quê?
- Se pedires com jeitinho e se fizeres mesmo questão...
Ele chegou-se para trás na cama, dando-me espaço.
- Madame, pode deitar-se na minha cama? Adoraria tê-la a descansar ao meu lado. Seria uma honra. - disse ele em tom de gozo.
- Se o senhor faz questão...
Deitei-me de lado, como ele estava, ficando de costas para ele. Ele pôs um braço em volta da minha cintura e puxou-me mais para ele.
- Porque me puxas mais para ti? - perguntei eu.
- Para ter a certeza de que não cais da cama. - afirmou ele com um sorriso, apertando-me mais.
Os nossos corpos estavam practicamente colados. Sentia atrás de mim o seu corpo quente e firme. Fechei os meus olhos e mordi o lábio.
- Diz-me uma música para eu cantar para ti... - sussurou ele ao meu ouvido.
- Fazias isso?
- Sim...
- Então..."Ich bin nich' ich".
- "Ich bin nich' ich wenn du nich' bei mir bist...bin ich allein...und das was jetzt noch von mir übrig ist...will ich nich' sein...draußen hängt der Himmel schief und an der Wand dein Abschiedsbrief...ich bin nich' ich wenn du nich' bei mir bist...bin ich allein"...
Eu mordi o lábio de novo, com um sorriso. Um arrepio percorreu-me todo o corpo, da cabeça aos pés. Ele apoiou-se num cotovelo, ficando com a cabeça apoiada na mão. Mordeu também o lábio. Depois passou o seu dedo suavemente na minha cara, enquanto me mirava. Fiquei a olhá-lo. Ficámos a olhar-nos, um ao outro. O seu olhar fixava-se nos meus olhos e de vez em quando fugia para os meus lábios. E eu estava exactamente na mesma situação. Mas não. Desta vez eu não me podia deixar levar.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
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