- Bem, o que eu tenho a dizer não é fácil. - disse o médico. - O Sr. Stuttgart não está aqui por coma diabético.
- Não? - perguntámos eu e a minha mãe, surpreendidas.
- Não. Longe disso. Não tem nada a ver com os diabetes. O que ele tem é... Bem, é complicado.
- Mas diga! - pedi, desesperada.
- É um aneurisma cerebral. - respondeu finalmente o médico.
- O QUÊ? - berrei. - E isso causa desmaios?
- Sim, devido à fraqueza do corpo. Foi por pouco que ele não faleceu. - afirmou o doutor.
- E há maneira de tirar o aneurisma? - perguntou a minha mãe.
- Sim, há. Podemos fazer uma cirurgia, o aneurisma está com uma localização acessível. Mas há 50% de hipóteses de recuperar e 50% de hipóteses...bem, de ele não aguentar.
Olhei para a minha mãe. Arriscávamos?
- Ele já está consciente? - perguntei.
- Não. Continua em coma e vai permanecer até sabe-se lá quando se não o operarmos.
- Então...ele pode ficar em coma durante muito tempo e pode morrer. São essas as opções? - perguntou a minha mãe.
- Exactamente. - concordou o médico. - Está nas vossas mãos a decisão.
- Que fazemos, mãe? - perguntei.
Tom mantinha-se neutro. Estava apenas ao meu lado, a segurar-me a mão. Eu sabia que o tinha a ele, acontecesse o que acontecesse. É claro que eu queria que o meu pai sobrevivesse, mas...
- Eu quero arriscar. E tu? - perguntou-me a minha mãe.
Mantive-me em silêncio. Ao fim de uns segundos respondi:
- Vão com a cirurgia para a frente. Se não arriscarmos ele também fica ali a sofrer e nós a sofrer também por ele não acordar do coma.
- Ok, vamos avançar com a cirurgia. Aconselho-vos a ir para casa. O Sr. Stuttgart ainda não pode receber visitas e só podemos operá-lo amanhã de manhã. - explicou o doutor.
Fomos para casa. Enquanto eu chorava, Tom apertava-me contra ele e afagava-me os cabelos. Quando ele dizia que ia ficar tudo bem, parecia que já estava tudo bem. A sua voz, as suas palavras...ele fazia-me acreditar que tudo era um mar de rosas. Ele fazia-me pensar positivo, fazia-me ver a vida com mais optimismo. Era impossível ser-se pessimista ao seu lado. Tom transmitia uma energia, uma força...uma vida. Ele significava a vida para mim. Se me tirassem o Tom, tiravam-me tudo.
Saímos do carro.
- Entras? - perguntei.
- Não posso. Tenho de ir para casa, desculpa... A minha mãe mata-me se não fico em casa hoje. - lamentou Tom.
- Ok, vai lá...
- Hey, amanhã vamos juntos para o hospital. Eu fico lá contigo todas as horas da operação do teu pai. Quando te disserem que ele vai ser operado, avisa-me. Eu vou logo para lá e fico lá o tempo todo contigo.
- Não é preciso, Tom...
- É sim. E se for preciso levo o Bill, a Vanessa, a minha mãe, o meu padrasto, o Georg, o Gustav...
- Quem são o Georg e o Gustav? - perguntei.
- Oh, meu Deus! Eu não te contei...
- O que é que não me contaste, Tom? - perguntei.
- Bem, nada importante. - respondeu.
- Diz. Agora fiquei curiosa.
- Bem, eu e o Bill temos uma banda. O Georg é o baixista e o Gustav o baterista. Desculpa, pensei que te tinha dito...
- Não faz mal...
- Mas depois eu e tu falamos melhor sobre isto. Não é importante agora. Vai para casa, toma banho, janta e vê se te acalmas.
- Eu não vou conseguir jantar...
- Vais sim. Come alguma coisa, nem que não seja muito. Precisas de te alimentar. Depois como te manténs forte para estares lá para o teu pai?
- Tens razão...vou tentar comer alguma coisa.
- Se quiseres podes ligar-me. Nem que eu fique a noite toda a falar contigo ao telemóvel.
- Não, eu não te faria isso...
- Sou eu que estou a dizer para fazeres. Antes de te deitares liga-me, só para eu saber que estás bem.
- Ok, chatinho, eu ligo!
- Sou chatinho, mas tu gostas!
- Correcção: Eu não gosto, eu amo.
- Vá, tenho de ir. Vai tomar banhinho. Até amanhã.
Beijou-me.
- Amo-te, Engel.
- Também te amo, rastafari.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
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