terça-feira, 26 de agosto de 2008

Loving you twice - Capítulo 38

Deitámo-nos na areia. Ficámos a ver o pôr-do-sol. O sol por metade, parecendo tocar o mar. O céu, cor de laranja e azul.
- Que horas são? - perguntei a Tom.
- Seis e meia. - respondeu.
- Fogo! Já podias ter dito! Prometi à minha mãe que estava em casa antes do jantar!
- Desculpa, esqueci-me! Também já devíamos ter dado conta, se está o pôr-do-sol a... hey, Nicky! Onde vais?
- Corre, pá!
Corremos para o carro e apressámo-nos a chegar à nossa rua.
Beijei Tom, saí a correr do carro. Acenei-lhe e vi-o ir embora. Entrei em casa à pressa e fechei a porta, então atrás de mim.
Vi a minha mãe no sofá. Sentei-me ao seu lado.
- Desculpa não ter estado aqui. - afirmei.
- Eu entendo... - respondeu, baixinho.
Os seus olhos estavam inchados, ela havia chorado muito.
- Precisava de espairecer e... - tentei explicar, mas a minha explicação foi interrompida pela voz da minha mãe.
- Não precisas de explicar, filha. Eu entendo. Se eu pudesse também me tinha afastado e não tinha passado por este dia. Parece que ele...que ele se foi e que andaram todos a celebrar. Foi preciso ele nos deixar para toda a gente se preocupar...
- Tive o mesmo pensamento no cemitério, mãe.
- Não te pedi que estivesses cá hoje. O enterro, a união da família, toda esta gente cá em casa...é complicado, eu percebo que não queiras estar aqui. Mas daqui para a frente vou precisar da tua ajuda. Vou precisar da tua presença, do teu apoio. Vou precisar que estejas cá.
- E vou estar, mãe. Não te deixaria sozinha numa altura como esta.
- Ainda bem.
- Os tios?
- Tiveram de ir embora mais cedo.
- Mas não iam ficar?
- Pois, mas sabes como é a nossa família. Tem sempre coisas para fazer - disse num tom chateado, irónico.
- Eu conheço a história. E como vamos ficar agora? Quer dizer...nós as duas.
- Não sei. Sinceramente, não sei. Eu tenho de arranjar uma solução porque acho que...não sei se vou poder sustentar tudo sozinha.
- O quê? Como não?
- Antes tínhamos o ordenado do teu pai, agora só temos o meu. Não sei como vou poder com tudo sozinha.
- Mãe, não estás sozinha. Eu estou aqui.
- Mas tu não tens ordenado, tu não trabalhas. Nem eu quero que trabalhes com a tua idade.
- Porquê? Eu posso ajudar!
- Não. Tu não vais trabalhar. Preocupa-te apenas com a escola.
- Mas, mãe...
- Não digas nada. Não se fala mais na questão de ires trabalhar.
- Então e o que vais fazer agora?
- Eu considerei...
- Consideraste o quê?
- Irmos viver com a tua avó...em Portugal.
- O QUÊ?! Não, deve haver uma solução! Portugal não! - gritei, levantando-me.
- Porquê? - perguntou a minha mãe.
- Porquê? Namoro com o Tom, faz amanhã uma semana. Tenho aqui a minha melhor amiga de infância, a Vanessa. Tenho aqui o Bill e os meus outros amigos todos. Tenho a minha escola. Temos o tio, a tia. Temos toda a gente e tudo aqui!
- Sabes bem que eu deixei Portugal à procura de uma vida melhor, mas lá temos ajuda. Temos mais família lá.
- E por isso deixas tudo o que já construíste aqui para viveres de pouca ajuda dos outros, num país que está pior que este?!
- Calma! Foi só uma hipótese! E no Norte de Portugal as coisas não são assim.
- Não, mãe.
Desatei a chorar, virei costas. Subi ao meu quarto e liguei à Vanessa. Eu precisava de falar, eu precisava de lhe contar.

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