- Que foi? - perguntei.
- O teu pai não acorda, Inês! Ajuda-me! - exclamou a minha mãe, aflita.
Levantei-me rapidamente e desci até ao piso de baixo a correr.
- Pai! Pai! - comecei a chamar enquanto o abanava.
Levantei-me e fui buscar a sua bolsa dos diabetes. Piquei-lhe o dedo, molhei a ponta de uma tira no sangue que saiu e introduzi na pequena máquina.
Virei-me de súbito para a minha mãe. Fiquei aflita com os resultados.
- Então? - perguntou ela.
- O pai deve estar em coma diabético - disse eu, quase a chorar. - Os níveis de glicémia estão baixíssimos! Ele tomou a insulina quando devia?
- Não sei! Vou chamar uma ambulância!
- Não há tempo para uma ambulância! Eles vão levar séculos a chegar! Ajuda-me a levá-lo para o carro e apressa-te a conduzir até ao hospital.
Como o meu pai sempre foi magro, conseguimos levá-lo sem grande custo para dentro do carro. Deitámo-lo no banco traseiro e eu sentei-me, apoiando-lhe a cabeça no meu colo. Abri um pequeno pacote de açúcar tipo os dos cafés. Abri a boca do meu pai e deitei-lhe açúcar na língua. Fiz com que o açúcar se derretesse e que ele o engolisse. E repeti, acabando o pacote.
A minha mãe conduziu até ao hospital o mais depressa que pôde e logo saiu do carro a pedir ajuda aos médicos que por ali andavam. Os médicos do INEM ajudaram o meu pai a ser transportado para dentro do hospital.
- Preciso de saber quem é, que idade tem, o que tem e o que se passou - disse o médico.
- Chama-se David Stuttgart, tem 40 anos, é diabético e acho que entrou em coma - respondi eu. - Os níveis de glicémia estão muito baixos. Enquanto estávamos a vir para cá, dei-lhe um pacote de açúcar. Ele sempre me disse que isso ajudava quando os diabéticos entram em quebra.
- Muito bem, vamos observá-lo. Pedimos que aguardem na sala de espera - disse o médico e foi ter com os outros médicos e com o meu pai.
A minha mãe chorava. Encaminhei-a até à sala de espera e arranjámos lugar. Não sei como é que ela conduziu, ainda por cima tão rápido e sem ter nenhum acidente. Os seus olhos tornaram-se ainda mais claros com as lágrimas, e vermelhos em volta. Coloquei o meu braço em volta dos seus ombros.
Quando tudo estava mais calmo, ainda que sem notícias, a minha mãe levantou-se para ir buscar um copo de água da máquina que estava no outro lado da sala. Resolvi ligar à Vanessa. Eu ligava-lhe por tudo e por nada.
- Estou? - atendeu.
- Olá mana... - disse com uma voz rouca.
- Que se passou, Nicky? - perguntou já preocupada.
- O meu pai entrou em coma diabético. Estou com a minha mãe no hospital, sem saber nada dele. Estamos aqui há uma hora...
- Meu Deus! Como é que isso aconteceu?
- Não faço ideia, mana. Mas aconteceu.
- Sabes, os gémeos estão cá em casa. Fiquei com a toalha do Bill por engano, por ser parecida à minha e os gémeos vieram cá buscá-la. O Tom quer saber o que se passou. Posso contar, certo?
- Claro, conta...
Ouvi-a contar ao Tom.
- O Tom diz que vai aí - disse Vanessa.
- Diz-lhe que não é preciso...
- Olha ele diz que vai ligar-te. Vou desligar, está bem? As melhoras do teu pai, mana. Beijinho. Qualquer coisa, liga, seja a que horas for.
- Mas, mana...
A chamada foi desligada. Olhei para o telemóvel feita parva e não tardou a tocar outra vez. Desta vez era o Tom.
- Nicky, tens a certeza que não queres que vá? - foi a primeira coisa que disse. Nem "olá".
- Não é preciso... MÃE!
sábado, 16 de agosto de 2008
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