Para Sempre Contigo - Capítulo 20

Ao fim de uma hora e pouco já todos tinham as tendas montadas e tudo arrumado. Também estavam todos esfomeados. Almoçámos e depois os monitores pediram que nos sentássemos em círculo.
- Bem, hoje não vamos fazer nada de especial. Mas agora pedimos que se apresentem um a um. Digam o vosso nome, idade, de onde vêm, os vossos passatempos preferidos, etc. Digam o que quiserem! Vamos começar por aqui - disse Peter apontando para o jovem que estava ao seu lado. Só depois reparei que era o rapaz que se estava sempre a voltar para trás. Ele apresentava-se, a seguir o amigo dele, depois uma rapariga e a seguir era eu. Tremia sempre que tinha de me apresentar e esta vez não era excepção.
- Eu sou o Jim, tenho dezassete anos, sou de Leipzig, practico futebol, adoro música... - à medida que ele se ia apresentando eu pensava que se calhar ele nem era tão má pessoa como parecia. Mas o facto de me estar sempre a olhar incomodava-me um pouco. A seguir apresentou-se o amigo dele, o Carl e a seguir do Carl a Mary. Tinha chegado a minha vez. Tremia imenso.
- Eu sou a Inês, mas todos me chamam Nicky. Sou portuguesa, tenho quinze anos, quase dezasseis. Vivo em Magdeburgo. Adoro cantar, escrever, compôr, tocar viola, bateria...tudo o que seja relacionado com música. Sou divertida, energética, não paro quieta...nunca! - olhei para o chão com um sorriso maroto. Todos se riram. A Mondy começou a apresentar-se. O nervosismo parecia desaparecer aos poucos.
Naquela tarde pescámos e conversámos imenso. À noite, cozinhámos o que pescámos e depois sentámo-nos todos em círculo como quando nos apresentámos. Uns quinze jovens e quatro monitores sentados em círculo à volta de uma fogueira. Conversávamos até que a Nicole teve a ideia de cantarmos. Pediu a mim e à Mondy que fôssemos buscar as violas. Um pouco envergonhadas, lá fomos nós. Trouxémos as violas e voltámo-nos a sentar.
- O que é que é suposto tocarmos? - perguntou a Mondy tão envergonhada quanto eu. Tínhamos toda a gente a olhar para nós.
- O que quiserem! - disse a Nicole.
- Pois! A Nicky pode começar! - exclamou a Mondy. Lancei-lhe de imediato um olhar ameaçador e todos se riram.
- A Nicky o quê? - riram-se de novo quando perguntei.
- Tu tens mais jeito...anda lá! - disse ela empurrando a pressão para mim.
- Oh, ok...se tem de ser...mas toco o quê?
- Aquela que tu adoras tocar!
- Qual delas? - perguntei rindo.
- Acho que é "Missing You", uma antiga.
- Ah, essa! Está bem... - posicionei os dedos nas cordas da viola e com a outra mão puxei o cabelo para trás da orelha. Muito nervosa, lá tentei...

[ http://www.youtube.com/watch?v=tdRJou6pMX0 - Missing You - Cover by Mia Rose ]

Correu bastante bem. Não desafinei, não me enganei a tocar e todos aplaudiram no fim. Senti-me um pouco envergonhada mas orgulhosa. Depois de todos cantarmos imenso e de eu e a Mondy tocármos, fomos todos dormir. Eu e a Mondy metemo-nos dentro da tenda e trocámos de roupa. Estava muito escuro e não queríamos acender nenhuma lanterna nem algo parecido. Ouvia-se toda a gente a falar entre si nas tendas eTínhamos de trocar para outra roupa para dormir, então tivémos de nos vestir ali, às escuras.
- Auch! Deste-me com o cotovelo no olho! - reclamei eu da cotovelada que levei da Mondy, levando instantaneamente a minha mão ao olho.
- Desculpa! Foi sem querer! Não se vê nada!
- Sim, realmente não se vê nada aqui dentro... - estava ajoelhada e então inclinei-me para o lado esquero e estiquei uma perna para a frente. Vi uma sombra passar à frente antes da sombra da minha perna, mas não vi o que era.
- Auch! - gritou ela - deste-me com o pé na cara!
- Desculpa, Mondy! Foi sem querer!
- Pois...vá, veste-te rápido para nos deitarmos de uma vez!
- Deixa-me só vestir o outro lado das calças, não?
- Sim, sim...vai, despacha-te!
- Estou a fazê-lo! - deitei-me para trás e enfiei a perna que faltava nas calças. Enfiei-a de uma vez, esticando rapidamente a perna para a frente.
- AUCH! De novo? - gritou a Mondy mais alto do que da primeira vez.
- Desculpa, desculpa! Vá, vamos dormir...
- Sim, agora mesmo de preferência!
- Até amanhã!
- Finalmente...
Tudo estava calmo ali. Fui à mala que estava do meu lado e tirei um pacote de Doritos. Comecei a comer a tentar não fazer muito barulho para que a Mondy não percebesse. Ao mesmo tempo ouvia um pequeno barulho igual ao meu a mastigar os Doritos. Começou-me a cheirar a batatas fritas de presunto. Estava de costas para a Mondy. Virei-me para o lado dela e ela para o meu ao mesmo tempo.
- Mondy, isso são batatas? - perguntei eu.
- Nicky, isso são Doritos? - perguntou ela ao mesmo tempo.
- Sim... - respondemos ao mesmo tempo.
- E porque estás a comer isso a meio da noite? - perguntei-lhe.
- Olha...e porque é que tu estás a comer isso a meio da noite? - perguntou ela indignada.
- Eu tinha fome...ok, gulodice...e tu?
- A mesma coisa...vamos mas é dormir...
- Não, eu quero acabar o meu pacote de Doritos! - disse eu indignada com cara de criança agarrando-me ao pacote.
- Por amor de Deus, Nicky...
- Oh, mas olha para ele! Tão solitário! - peguei no pacote e mostrei-o a Mondy fazendo um ar muito doce.
- Então passa para este lado que faz companhia a mim e às minhas batatinhas!
- Querias...come as tuas batatas que eu como os meus Doritos! Vá lá...acabamos isto num instante e depois dormimos!
- Então vamos...
Começámos a comer e acho que acabei por adormecer. Acordei de manhã com o apito dos monitores lá fora.
- Acordem! Têm quinze minutos para se despacharem! Apenas cinco minutos de tolerância! Vá, rápido!
- Oh, Gott... - disse eu levando a mão à cara de tal forma que até dei uma chapada em mim própria e me aleijei - quero a minha mãe...mãezinha...dá-me colo... - disse eu agarrando-me à Mondy.
- Anda cá, amor da tua mãe... - disse ela ainda de olhos fechados passando a mão na minha cabeça.
- Não há amor como o amor de mãe... - disse eu tentando-me levantar.
Levantámo-nos e despachámo-nos. Daí a pouco estávamos lá fora a tomar o pequeno-almoço com todos os outros. Jim não parava de me olhar de novo. Olhei para ele e fiz um sorriso sarcástico. Ele baixou a cabeça rapidamente tirando o sorriso parvo que tinha estampado na cara.
- Acho que ele percebeu a mensagem! - disse a Mondy rindo-se.