Onde estou eu? Porque é que está tudo tão escuro aqui? Caramba, nem consigo abrir os olhos. O que é que me aconteceu? Tantas perguntas que não consigo responder. Oh, espera, já sei. Eu estive na praia com a minha mana, foi isso. Mas depois...ah, depois fui para as rochas. Mas o que é que aconteceu a seguir? Porque é que agora só consigo pensar e ouvir? Ouvir, quer dizer. Não consigo ouvir nada de nada. Isto é tão estranho, porque à vezes em que eu oiço o Georg, a Joana, a Diana e até mesmo a Catarina, mas outras vezes que não oiço nada. Bolas, isto é mesmo estranho. Anh? Estou a ouvir qualquer coisa.
- ... e depois ela abriu os olhos e sorriu para mim! Estava tão bonita, Joana... Fui chamar a enfermeira e ela sabia tudo, mas tudo mesmo! O nome dela e o meu, disse que eu era o namorado dela, que tinha 18 anos...tudo! Era tão real, eu estava mesmo contente. Que pena...
- Mas ela vai acordar, e vais ver que vai-se tornar tudo realidade, tudo o que disseste! E depois vamos sorrir para ela, vais ver. - e calou-se tudo outra vez.
Ouvi alguém a chorar. Oh, mas era o choro do Georg. O que se passava? Tenho que o consolar, tenho que o conseguir ver, caramba já estou aqui há tanto tempo! Tenho sentido alguém sempre a agarrar-me, alguma coisa. Talvez seja a cara dele, ou a mão, não sei. Mas eu nem tenho forças para isso...Isto é completamente estúpido, quero vê-lo! Será que estou doente? Espera, estou a ouvir alguém.
- ... e não sei quanto tempo é que ela mais vai ficar em coma. Ela pode ficar ANOS em coma, entendes? Eu não posso esperar tanto tempo, nenhum de nós pode.
Pronto, já sei o que se passou comigo. Estou em coma...que merda. Eu sei que sou, eu sei que sou forte e vou conseguir aguentar isto! Eu estou à beira da morte?! Não, não, NÃO PODE SER! Eu quero estar com o Georg, eu não quero provocar nenhuma tristeza nele, eu AMO-O! Estou a chorar? Eu já nem sei nada, se estou a chorar se estou a rir, se estou de pernas abertas se não.
- Olha...aquilo é o que estou a pensar que é? - disse alguém, uma rapariga.
- Ela...ela está a chorar!
- Sónia, tu consegues ouvir-nos? Por favor, tenta abrir os olhos!
Pois, como se fosse fácil. Eu nem sei se estou deitada se em pé. Mas tenho de tentar, nos olhos consigo sempre notar uma diferença por causa do escuro. Porra, isto é mesmo dificil. Vá lá, pensa no Georg, pensa na Diana, pensa na Catarina e na Joana! E pensa no Bill e no Tom, e também no Gustav, todos eles teus amigos! Sinto...sinto uma claridade maior.
- DOUTOR, DOUTOR, ACHO QUE ELA NOS ESTÁ A OUVIR! ESTÁ A TENTAR ABRIR OS OLHOS! - gritava o Georg, muito alto mesmo.
- Tenha calma, isto é normal nos comas.
Eu dou-te já o normal, oh parvalhão. Agora vou MESMO acordar, quer o coma queira quer não. Claridade maior, ainda. Vejo três cabeças.
- Onde...onde estou? - consegui dizer.
Já me consigo mexer, já consigo pensar, já consigo olhar, ver, sentir. Sinto o Georg a fazer-me festas no cabelo, as lágrimas da Joana e da Diana que chegou agora a baterem-me nas mãos. Vejo uma enfermeira a olhar para mim, para ver se estou mesmo acordada, vejo o cabelo espetado do Bill e as rastas do Tom, e vejo a Catarina abraçada ao Tom, a Joana abraçada ao Gustav e a Diana ao Bill. E quando acordo definitivamente, sento-me com dificuldade na cama e beijo o Georg, com saudade e proveito, com uma saudade devastadora. Nós, nós os dois sentimos que nunca mais nos iamos beijar, mas agora que aconteceu, sentia-me feliz, mas tão feliz.
- Oh meu Deus, tive tanto medo. - dizia o Georg, abraçando-me. E depois largou-me, porque a Diana veio-me abraçar, a chorar imenso, porque já não aguentava mais. Dizia a mesma coisa, que se eu morresse ela também morria. E depois a Catarina, a dizer que o sorriso que lhe dei foi perfeito, que já tinha saudades do meu sorriso e do meu riso. E o Bill e o Tom, que vieram ter comigo a dizer que lhes preguei um grande susto, e o Gustav a dizer "Ainda bem que já passou tudo!". E a Joana? A Joana estava a chorar tanto, mas tanto...não tinha coragem de vir ter comigo. E eu "Anda cá, tonta!" e ela veio a correr para os meus braços, a dizer "desculpa, desculpa mana!" e eu a dizer que estava tudo bem.
- Bem, tu pregaste-nos um grande susto, menina! Tinhas um traumatismo na cabeça e um corte noutro lado da cabeça, que nós tratámos. Podias ter morrido se a tua amiga não te tivesse salvo!
- Eu sei. - e sorri para ela, agradecida.
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