- Deixa-me te mostrar uma coisa. - pediu-me, estávamos os dois deitados, era de madrugada, tão cedo.
- Mais logo, agora deixa-me dormir.
- Mas agora agora é que tem graça amor. Anda... - e agarrava-me na mão, a tentar puxar-me.
Olhei para o despertador. TRÊS DA MANHÃ? O gajo era doido.
- Georg, são três da manhã, yah? Deixa-me dormir. - disse eu, pondo os lençois por cima do corpo para ele não me agarrar.
- Mas vale a pena, anda lá. - deitou-se na cama outra vez, tapou-se com os lençóis, olhou para mim. Já havia uma pequena claridade, conseguia ver os olhos verdes dele a olharem para mim e os lábios em jeito de beiçinho. Não resisti e dei-lhe um beijo, ele agarrou-me e envolvemo-nos ali, aos beijos e quase a fazer amor. Pois, quase. Porque ele é chato como tudo.
- Vá...agora é muito tarde para fazermos. Eu quero-te mostrar uma coisa linda, anda lá...
Lá fui, contrariada. Vesti uns calções e uma camisola, apanhei o cabelo e lá fui com ele, de mão dada.
- Para onde me levas?
Ele não me respondeu. Eu sentia o cheiro do sal, estávamos a chegar à praia. Eu estaquei, não queria estar outra vez num sítio onde quase morria.
- Tu não me vais voltar a levar para aquele sítio Georg, não vais.
- Mas Sónia, eu quero-te mostrar uma coisa que encontrei quando tu tiveste o acidente! Eu começei a passear na praia das vezes em que a Joana, a Catarina ou a Diana ficavam no hospital! É do outro lado da praia, nem precisas de olhar para onde tudo aconteceu! Só te peço que venhas comigo...por favor. - e deu-me a mão, e eu lá fui.
Eu bocejava constantemente, era muito cedo e eu tinha-me deitado quê...à duas horas? Chegámos à praia, eu olhei para aquelas rochas horríveis que me metiam medo agora. "SÓNIAAAAA" gritava-me a Joana, aos ouvidos. Senti um arrepio, apertei ainda mais a mão ao Georg. Descalçei-me e fomos andando pela praia, ao som das ondas calmas que vinham e iam, sem se cansarem nunca daquela vida. Íamos calados, eu um bocado triste, por agora ter medo da praia, o sítio onde eu gostava tanto de estar. Chegámos ao final da praia, às rochas da outra ponta. As rochas metiam-me medo, eram pontiagudas. Mandei um berro, via sangue nelas.
- Georg, vamos embora daqui, por favor! - gritava eu, a chorar e correr para o meio da praia. Ele ficou admirado, olhava para mim e para as rochas. Fui correndo, com as lágrimas a saltarem-me da cara e a pararem nas minhas pegadas. Depois de muito correr, estava no meio da praia. Sentei-me, e pus a cabeça entre os joelhos. Ouvia passos a aproximarem-se.
- Desculpa amor. Eu não queria que sofresses outra vez. Só te queria mostrar uma gruta debaixo das rochas que encontrei. No inicio está escrito no chão "Gruta do Amor. Se os dois se amarem, às três e meia da manhã vocês iram ver, o brilho do amor que irá aparecer". Eu achei que podíamos ir ver...agora que penso nisto, até soa um bocado chungo a profecia, mas eu queria ver contigo. Mas se não quiseres ir, é na boa.
Olhei para ele. Estava arrependido, preocupado comigo. Eu percebia que ele queria fazer uma coisa romântica comigo.
- Só te peço uma coisa. Não me faças olhar para as rochas. São tão pontiagudas e cobertas de....- Estava a ser paranóica, caramba. - Esquece. Só não me faças olhar para elas.
Deu-me um beijo na testa, fomos andar outra vez, de mão dadas. Eu cheguei lá e tapei os olhos, agarrei no braço dele e entrámos na gruta. Parecia-me normal, como todas as outras. O Georg olhou para as horas. Eram 3:29. Esperámos. E de repente entrou um fiozinho de luz e a gruta iluminou-se toda. E apareceram iniciais de imensos casais. B&D, C&F, L&J. E vimos uma rocha esculpida em forma de mesa. Avançámos e tinha lá outra rocha em forma de caneta. Eu olhei para ele e ele olhou para mim. Fizémos o que tinhamos a fazer, e depois viemos embora, de mãos dadas, de volta a casa.
E na parede lá ficou o nosso amor, G&S. Esculpido pelos dois, com sorrisos e risos. Amavamo-nos, isso era certo.
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