E lá foi ele, mais uma vez, falar com ela. O Georg desde que isto tinha acontecido estava mais distante. Não falava com ninguém a não ser com ela, não queria estar com ninguém a não ser com ela. Estava magríssimo, e tinha olheiras gigantes. Se alguém ia ter com ele, ele respondia mas pareçia estar noutro mundo, distante. Agora, quando entrava, já não dizia nada. Só dizia 'Estou aqui' e depois sentava-se, com a mão entrelaçada na dele.
Ele olhava para tudo à sua volta, tudo o que já lhe era demasiado familiar. O cheiro a hospital, que a Sónia detestava, os tubos, as camas, os computadores a dizer se o coração estava bem ou não. Os peluches, as flores, os cartões, para quando ela acordasse. E o Georg apertava com a outra mão o fio que dizia Sónia, o fio que vinha com outro com o nome dele, que ela chorou por ele, depois da discussão que tiveram. E viu a pulseira a dizer Georg na mesa de cabeçeira, e agarrou-a também. Coisas que eram dela, que faziam com que ele tivesse forças para pensar que tudo ia ficar bem, que ela ia acordar bem e sem problemas.
- Sónia, Sónia... - dizia ele. - Quando tu acordares, eu não te vou largar nunca. Tenho medo que volte a acontecer tudo como dantes. E sim, eu já estou a dizer isto como se estivesses acordada, porque EU SEI que vais acordar, que vais ficar boa e que podemos viver felizes e aproveitar estas férias juntos e com o Bill, o Tom, o Gustav, a Diana, a Catarina e a Joana. Porque isto sem ti perde a piada... Não conseguimos fazer nada a não ser vir para aqui saber se já acordaste, se já estás bem. Estou a ver as estrelas agora, sabes? - continuava ele. Era de noite, tinham todos ido descansar, mas ele tinha ficado ali, a fazer-lhe companhia. - Estou a ver as estrelas e lembro-me do e-mail que me mandaste a dizer que eu estava a usar esta pulseira. Eu por acaso, estava a vê-las, enquanto me lembrava de ti. - começou a chorar. - Eu lembro-me sempre de ti, do primeiro dia que tivémos juntos, de TUDO! Tu vais ter de aguentar, se não vais-me fazer sofrer imenso.
E baixou a cabeça, a chorar e a chorar. E então sentiu um gemido. Pensou que tinha sido a cama, mas não ligou. Depois, a mão que ele agarrava começou a mexer-se, direita à cabeça dela. Ele olhou. Os olhos estavam abertos, ela olhava à sua volta a perguntar o que se tinha passado. Era uma miragem? Estaria ele a sonhar de tão cansado estava? A Sónia olhou para ele, confusa. Mas depois, começou a sorrir imenso.
- Georg.
- S...Sónia?
- Que estou aqui a fazer? E porque estás a chorar, amor? - perguntou ela, tentando levantar-se. Mas deitou-se de repente, por causa da cabeça.
- Oh, deita-te. Eu já venho.
E saiu do quarto a correr, foi chamar a enfermeira mais próxima.
- Minha senhora! A minha namorada acordou do coma!
- Anh? Oh, claro, já lá vou! Maria, chama o médico! - disse ela para a enfermeira ao lado.
Foram os dois para o quarto, ela ainda estava acordada. Não, era milagre. A Sónia estava acordada. Ele chorava de felicidade, e ela olhava para ele a sorrir, mas um pouco confusa.
- Minha querida, como te chamas? Diz o teu nome completo. - perguntava a enfermeira, enquanto lhe via os olhos com uma espécie de lanterna.
- Sónia Raquel Cabecinhas Paulino.
- Quantos anos tens?
- 18 anos.
- Onde é que estás agora?
- Eu...não sei, mas penso que é no Algarve.
- Como se chama aquele rapaz? Quem é ele?
Ela sorriu, com doçura. - É o meu namorado, Georg Moritz Hagen Listing.
A enfermeira sorriu, contente. Foi ter com o Georg e piscou-lhe o olho, como um "está tudo bem." e depois saiu, dizendo que ia à procura do médico, que nunca mais apareçia.
- Georg...o que é que aconteceu? Eu lembro-me de estar na praia com a Joana e depois não me lembro de mais nada. Ainda me lembro de um vulto a chorar ao pé de mim, mas mais nada.
- Tu caíste das rochas, parvinha. Qual foi a tua ideia?
- Não sei...não me lembro. Há quanto tempo estou assim?
- Há uma semana e um dia.
- TANTO TEMPO? - gritou ela, mas meteu logo a mão à cabeça, com dores.
- Sim. Eu estava tão preocupado contigo... Eu, a Diana e a Joana.
- Eu ouvi vozes, não sei de onde. A dizerem-me para ter forças, que me amavam....E apertei alguma coisa, acho eu...
- Pois... isso foi a Catarina que também te apertou a mão. E fui eu, a Joana e a Diana a falarmos. - disse, a sorrir.
- Mas ainda bem que tudo está bem. Não é Georg?
"GEORG, GEORG?" gritava eu, preocupada. Ele estava ali, sentado com a cabeça na cama. Tinha adormecido duranta a noite, coitado. Ele olhou para mim e para a Sónia, atarantado.
- Eu sonhei...que ela tinha acordado.
E eu abraçei-o, porque ele tinha começado a chorar.
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